quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido (mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come,
se passeia, se ama,
se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade,
recompensa, justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Adeus 2010! E já vai tarde

Foto: sinto sua falta

Finalmente este ano terrível está próximo ao fim.
Voltando um pouco no tempo, precisamente um ano atrás, meu pai ficou doente um pouco antes do Natal. Foi internado algumas vezes, fez cirurgia e só saiu do hospital após seu aniversário, em 21 de janeiro. Todos nós ficamos um pouco com ele, fazendo os revezamentos necessários. Meu irmão, por ser o único homem, foi quem mais se dedicou. Ele ficou com meu pai, inclusive, a noite de reveillon , sentado em uma poltrona desconfortável.

Eu estava de férias e passando um período bastante conturbado e indefinido no trabalho. Tirei férias para descansar e pensar em novos desafios para 2010. Mas com as idas e vindas do meu pai ao hospital, minha disponibilidade foi providencial para o momento de emergência na família.
Logo após sua a alta, meu irmão foi hospitalizado. Passou mal e, por um erro médico enfadonho, foi embora para o plano superior, em menos de uma semana. Quase um ano depois e ainda estamos tentando nos recuperar de uma perda tão grande. Meu irmão era uma excelente pessoa, uma das melhores que eu já conheci, com um senso de humor único. Sempre diziam que eu e ele éramos do mesmo planeta, o mais velho e a caçula, em uma família de quatro filhos. Com certeza ele deve ter sido chamado para uma super, mega, power missão junto ao nosso Criador.

Voltei ao trabalho, ainda meio sem rumo após os acontecimentos tristes recentes, e minha chefe, com ausência total de sensibilidade, me informa que minha área seria extinta. Graças à Deus não foi bem assim que as coisas terminaram. Exceto a irreparável perda do meu irmão, tudo ficou melhor após a terrível turbulência por qual passamos.

E, com muita fé, oração e dedicação, passei por tudo com muita humildade e perseverança. E mais uma vez presenciei, agora em minha própria pele, que Deus sempre ampara aqueles que nEle confiam, e sua justiça é implacável...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Lembranças da infância

Ilustração: Eneidinha, suas tranças,
seus pensamentos estelares e seus amigos
Eu sempre gostei muito de poesia na adolescencia. Lia Cecília Meireles e também rabiscava algumas coisas... lembro-me que eu tinha um caderninho com borboletas desenhadas, onde escrevia. Infelizmente ele sumiu nas bagunças da mudança quando saí da casa dos meus pais.

Há muito tempo queria lembrar de uma poesia que eu gostava muito e até sabia de cor. Lembrava alguns trechos, algumas palavras e mais nada. Porém, meu pai a encontrou em uma antiga agenda onde tinha anotado um trechinho dela:

"Encostei-me a ti,
sabendo que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem,
depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso,
e dei-me ao teu destino, frágil,
Fiquei sem poder chorar quando caí."
Cecília Meireles

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Rafaela, meu amor!

Trecho de um livro não publicado, Capítulo 8, Eneida Lamarca

E, de repente, uma vontade maluca de ser mãe invadiu todo o meu ser. Fiquei surpresa pois nunca fui de brincar muito com bonecas quando era pequena, nem tampouco corria para segurar bebês no colo. Gostava muito de crianças, claro, mas nada além disso.

Não tardou muito e aconteceu. Eu estava grávida! (Oh! Céus...o que fazer?). A sensação de ter um bebezinho dentro do ventre, de senti-lo crescer, mexer e esperá-lo era indescritível. O corpo mudava a uma velocidade desafiadora e as roupas não serviam mais. A cintura fina deu lugar a uma barriguinha que era incentivada a mostrar-se. E aquele apetite usual por saladinhas foi automaticamente substituído por uma refeição completa.

A espera demorou nove meses e enfim ela chegou. Assim que trocamos o primeiro olhar, eu me apaixonei perdidamente. Ela era uma garotinha muito linda e risonha. Esperta como é até hoje, abocanhou meu seio e começou a mamar logo que teve oportunidade. E eu sentia um misto de estranhamento, dor, aprendizado, prazer em alimentá-la e realização. Tudo misturado.

Cada dia da nossa convivência era uma aventura para ambas. Eu simplesmente me transformei em alguém que se doa. Alguém que ama incondicionalmente, que transforma, que educa. Alguém que seria capaz de ter 100 filhos e amá-los com a mesma intensidade, sem esperar o algo de volta. Afinal, amor de mãe é aquele amor que mais se assemelha ao amor que Deus tem por nós.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Adorável momento novo

Ninguém era mais o mesmo e tudo estava mudado no mundo daquela menina. Sem seu gato Leo, ela se sentia a ‘Deus dará’. Uma garotinha sem eira nem beira e totalmente perdida. Nossa, que saudades sentia daquele gato escaldado! Seria capaz de largar tudo e fugir com ele para a Terra do Nunca.

Porém, algo em seu coração havia mudado. Estava livre e feliz com vontade de descobrir o mundo. Queria conhecer novos horizontes e lugares distantes. Pensava em visitar outros continentes e a terra de seus avós. Nada nem ninguém a poderia deter.

Mas e o amor? E aquela vontade que fazia seu corpo tremer quando estava apaixonada? Não sabia responder. Talvez aquele que seria o grande merecedor de seu amor ainda estava por vir. Sabia que o novo gato Leo a faria sonhar novamente no momento oportuno.