domingo, 10 de agosto de 2008

Impassível diante do Dragão

Foto: Luz do Dragão
Em meio a uma pequena reforma em sua casa ela o encontra. Estava escondido na estante entre tantos e tantos livros. Ele lembrava sua adolescência, era de sua irmã mais velha, que acabou se desfazendo dele.

Depois de muito tempo ela ainda se lembrava dele e de suas poesias. Uma pessoa querida, conseguiu encontrá-lo num sebo, há alguns anos atrás, e a presenteou.


Impassível Diante do Dragão

Quanto tempo nos conhecemos?
Sei lá...!
Eu vinha, você ia... foi um encontro comum, casual
Milhares já se encontraram assim.
Depois eu comecei a sentir algo,
Talvez uma saudade sem razão...
Sei lá...!
Não era tristeza, não era alegria,
Era uma indecisão de amar você.
E eu passava momentos, olhando pra frente,
Desligado, sem ver nada.
Gozado! Olhava e não via,
Estava absorto, parado, consumido por mim,
- Uma verdadeira estátua em introspecção -!
Estava "encucado",
"Encucado" com uma ausência que era presença.
De repente, a interrogação indecisa foi evaporando
E eu vi dentro de mim que era amor.
Você estava enquadrada no que eu queria:
Desde o sorriso até as lágrimas.
Você era o "sim" diante do altar,
Você era a mão certa na escalada incerta,
Você era o horizonte nítido...o agasalho...
Mas eu cometi um erro:
Não perguntei se eu também era
Tudo isso pra você.
E a verdade é que não era,
Eu não estava enquadrado no que você queria,
Eu era o "não"
Não era o sorriso, não era o agasalho, não era nada...
Era um ser andante maravilhosamente invisível para você.
De repente, a exclamação veio em "closed"
E eu fiquei afirmando seus defeitos,
Fiquei procurando tudo que você fazia de errado,
E você não fazia...
Fiquei torcendo prá você me decepcionar.
Afundei-me como arqueólogo nas ruínas da sua imagem adorada
E você permaneceu intacta,
Eu quis desmanchar a ilusão,
Quis vomitar um amor que não me assentava bem,
E eu torci pra você me decepcionar,
Eu queria tanto sentir raiva de você
Ódio!
No entanto, você se manteve a mesma,
Impassível diante do dragão, no qual me transformei.
Então, me decepcionei comigo,
Porque não compensei o que queria com o que sentia,
E numa noite, não muito longe,
Resolvi selar a carta de despedida:
Fechei os olhos,
As lágrimas pingaram uma a uma
E eu adormeci, sonhando o sonho da aceitação!
Livro: Deus Negro, de Neimar de Barros

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