terça-feira, 22 de dezembro de 2009

LAMARCA


O que sabemos sobre a ditadura militar ou sobre quem viveu naquela época? Acho que muito pouco. Deve ser horrível não poder falar o que pensa, ou pior, não ter direito a informação.

Lembro vagamente que meu pai era contra o regime militar. Nos dias de hoje, seria como um centro esquerda. Eu era bem pequena mas todos sabíamos que seus comentários sobre política, durante as refeições, eram proibidos de serem repetidos fora de casa.

Talvez pelo grau de parentesco e meu sobrenome, o regime militar sempre esteve em pauta na minha vida. Não demora muito e a pergunta é eminente: ‘Você é parente do capitão?’ De qualquer forma acho que prefiro ser uma 'Lamarca', do que ter o sobrenome de algum torturador cruel da ditadura.

Tinha vinte e poucos anos quando assisti o filme Lamarca, estrelado por Paulo Betti. O filme foi baseado na biografia Lamarca: o capitão da guerrilha, escrita por Emiliano José e Oldack Miranda, em 1980. Os biógrafos do capitão Lamarca realizaram sua pesquisa por meio de depoimentos, reportagens dos periódicos Pasquim, Em Tempo e Coorjornal, além da utilização dos relatórios do Exército.

O filme conta a história do capitão Carlos Lamarca, que deserta em finais da década de 1960 e ingressa no movimento de luta armada contra a ditadura no Brasil. A película se concentra no personagem Lamarca, enfocando sua brilhante trajetória como oficial do Exército brasileiro que, já em seu processo de formação, havia-se deparado com idéias socialistas, por meio de panfletos do Partido Comunista na Escola de Oficiais. Porém, o momento mais marcante foi o da sua tomada de consciência, representado no filme, com sua ida ao Canal de Suez, integrando uma força de paz. Lá, ele se depara com a miséria dos beduínos no deserto e chega a questionar se realmente estava lutando do lado certo: "sempre quis ser soldado e nunca deixaria de ser, mas mudaria de exército, se o nosso passasse para o lado dos exploradores". Senti nesse momento talvez a mesma revolta e indignação e pensei, por alguns instantes, que se eu vivesse naquela época, talvez não tivesse feito escolha diferente.

Outro momento marcante foi o convite que ele recebeu para o exílio, como muitos dos artistas e políticoso que, atualmente, usam o fato como adjetivo. Lembro da época que houve um movimento de luta pela anistia de quem estava longe. Os exilados voltaram para casa como heróis de guerra. Mas para Lamarca, o convite ao exílio era uma deserção. Era fuga, abandono à luta pela justiça e liberdade do povo, uma traição ao que acreditava e a todos os que haviam sido torturados e mortos.

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